Vitória?

guy-fawkes

 

E eis que o estopim que provocou as manifestações ao longo do Brasil teve resultado: houve redução das tarifas de ônibus. Mas, sabemos que não se trata dos 20 centavos, isso foi apenas a gota d’água necessária para que as pessoas que se indignam com as piadas do país se unissem, através das redes sociais (ou seja, Facebook e Twitter) para reclamar de forma bem visível. A questão é se, com a diminuição das tarifas, os ânimos vão se acalmar, porque, claramente, a redução das tarifas tem duas faces.

A primeira face é de que vale a pena protestar. Mesmo que seja por um motivo banal (os 20 centavos, se analisarmos a priori), se houver gente suficiente pra pentelhar, mudanças ocorrerão. Então, é de se esperar que, daqui pra frente, a população se empolgue mais na hora de pedir mudanças.

A outra face é o objetivo de enfraquecer o movimento em prol de um “bem” maior (no ponto de vista dos políticos), porque, se tocarem na ferida mais ao fundo, muita coisa ruim deve sair. Então, é melhor “dar o que eles pedem” para acabar com o tumulto e, ao mesmo tempo, com a possibilidade de que coisas maiores sejam pedidas. Claro que há, pelo menos da minha parte, a expectativa do tiro sair pela culatra mais tarde e o governo nos sacanear de alguma forma mais discreta. Já foi dito, tanto pelo prefeito do Rio como pelo de Sampa, que gastos deverão ser cortados em outras áreas e eu aposto em auxílio social, uma forma muquirana de deixar o povo contra o movimento. Por outro lado, não creio que o governo se arrisque a esse ponto, seria um blefe e tanto tentar fazer uma chantagem desse tipo. “Ou a passagem ou o bolsa família”. Até porque, já vimos a merda que dá quando se mexe em auxílio social.

E o ocultamento de tarifas através de impostos nos alimentos e em outras coisas essenciais torna uma resposta popular mais difícil. É complicado protestar contra uma sutileza dessas, não é um gasto direto que você vê todo dia como um aumento na passagem. Até por esse argumento, sou contra o Passe Livre em si, que seria a abolição do pagamento da passagem, que seria totalmente subsidiado. Se você não percebe onde está sendo roubado, você não reclama, é o causo do corno manso. E somos cornos mansos na saúde e educação. Os serviços são “gratuitos”, o que leva a um conformismo com a má qualidade do serviço. Se você paga por um hospital e ele não é decente, é natural que se faça um escândalo. É mais comum procurar ajuda jurídica e tentar sujar o nome de uma empresa que não te satisfaz no particular. Já no público, tudo é “de graça”, então, ninguém reclama. Exceto se não tiver merenda na escola.

Ocultar o aumento de ônibus nas tarifas é uma boa saída para nos roubar com um pouco mais de cara de pau. Já é feito isso no Bilhete Único, no fim das contas pagamos as duas passagens e, às vezes , me questiono se devo ou não usar o BU desnecessariamente: já que estou pagando nas entrelinhas, então vou gastar o máximo que puder, dando algum “prejuizo” no governo; por outro lado, estou dando dinheiro pras empresas que, independente do 2,75 ou 0 no desconto do BU, vão ganhar o seu no final do mês (apesar de eu não saber exatamente como é a recompensação). Mas, se vai ter que cortar de outras áreas importantes, por que não cortar do salário com assessores e dos próprios parlamentares?  É bem obvio que o gasto com esse pessoal é muito mais alto que o necessário e eles vêm dizer que é preciso cortar do que é nosso? Para garantir o deles, é claro. Acho que o próximo movimento deveria ser pela redução do salário dos parlamentares. Inclusive, vi algumas postagens do facebook apontando as 5 causas que vão além dos 20 centavos, vou postar aqui as minhas.

Congresso Nacional Brasilia

 

Isso só pra começo de conversa além de que, de certa maneira, 2 contém 5. Mas também precisamos ter garantidas a autonomia do judiciário em relação ao legislativo (não à PEC 37), garantia do direito de expressão, diminuição da corrupção policial (maiores salários e melhor treinamento).