A Bienal do Livro no Riocentro foi especialmente lotada esse ano, mesmo com 11 dias de duração, provocando transtornos no trânsito, na bilheteria e no interior do evento. Os transtornos do trânsito são reflexo direto da política de “decretar feriado” em grandes eventos que funcionam, mas não desenvolvem em nada a cidade. O que os simpatizantes dessa política não contavam é que eventos próprios da cidade, como a Bienal , podem também trazer grande movimentação de veículos, e é impossível decretar feriado para todo grande evento, ainda mais um evento de mais de uma semana de duração (vale lembrar que o BRT, principal (única?) ferramenta a ficar como legado ainda não chegará ao Riocentro (refiro-me ao Transcarioca)).
Mas não quero me focar na infraestrutura para receber grandes eventos. A lotação tem boa parte de colaboração da própria lotação da cidade, que cresce desordenadamente. De tudo um pouco está lotado na cidade, desde os transportes até o ingresso do Rock In Rio que esgota em 3 minutos. Muitos prédios subindo, muito trânsito e uma bolha prestes a estourar.
Na Bienal, mal se conseguia andar. Não era naquele estilo Cordão da Bola Preta, em que você vai sendo conduzido pela multidão, mas era no estilo em que pessoas ficavam tirando foto de tudo e havia filas gigantes para qualquer coisa (duvido que todas as pessoas soubessem pra que estavam na fila) e a locomoção se tornava impossível. Não dava pra entrar nos estandes pois já estavam lotados, havia correntes de pessoas que tornavam bem difícil você fazer qualquer movimento perpendicular ao fluxo, como o simples gesto de ir de um stand a outro. Mas tenho que parabenizar o marketing da Bienal que, apesar de ser longe pra muita gente, de não ter diferença de preço pra uma venda online, de ter fila para comprar ingresso e fazer pagamento dos livros, ainda assim, levar tanta gente. Por outro lado, o evento é lucrativo, senão, simplesmente, as empresas não iriam.
O público presente era basicamente de jovens e, como fui sábado, estavam indo por conta própria, e não por excursões com a escola. O gramado estava repleto de jovens começando a ler o livro. Esse foi um dos poucos momentos em que identifiquei alguma vantagem de ir na bienal (não pra mim, mas para o público, em geral): a social do gramado. Talvez seja uma forma de conhecer novas pessoas, sem ter que torrar na praia ou perder a noite numa balada. Havia muitos casais, mais um motivo para pensar na busca pelo social: casais precisam de um motivo para sair (acho que isso vem das mulheres, os homens saem só com o objetivo de reproduzir mesmo) e a bienal se mostrou um bom motivo para poder sair e trocar salivas em público de forma vergonhosa.
Acredito que a Bienal do Livro vá se tornar uma bienal tecnológica. como a Campus Party e faço votos que seja mesmo como a Campus Party, assim terei um evento tecnológico de grande porte perto de casa. Neste ano, vi poucos stands tecnológicos, mas eles estavam lá: Kindle, Google, Estante Virtual. Ok, tirando o Google, as outras duas são diretamente ligadas ao mercado do livro, mas, cada vez mais, o mercado da leitura vai se incorporar ao da tecnologia, de maneira que o comércio pela internet já prevalece [carece de fontes] , muitos dispositivos para leitura já se encontram no mercado, em especial os tablets. Além disso, o mercado da cultura pop, também bem presente na Campus Party, estava lá marcando presença e reforçando essa minha previsão.
Uma motivação menos abrangente para ir à bienal são a presença de autores e os debates. A presença de autores traz a turma que quer um autógrafo e chegar perto e, se der, bater um papo com alguém que escreveu algo que lhe agradou. Já os debates são sujeitos a uma pequena lotação. Ambos os eventos, apesar de serem atrativos e trazerem gente que, a princípio não iria, não justificam o sucesso do evento. Há também muitos pais que levam os filhos para incentivar a leitura. Não sei se esse é um modo legal, levar a criança ao tumulto (em especial, os bebês, e como vi carrinhos de bebê lá) para ver livros ao acaso. As crianças se focam mais nas pessoas caracterizadas e nas imagens do que nos livros em si.
Hoje, sou uma pessoa que lê acima da média da população, apesar de me considerar um leitor preguiçoso. Na verdade, com a faculdade e trabalho, minha leitura é mais da parte técnica, mas ainda leio alguns livros por ano (e tenho uma porção de livros a serem lidos já em casa, motivo pelo qual nem olho mais sebos, muito menos procuro por algo na Bienal). Mas sempre tive interesse pela leitura, e acredito que as influências a seguir foram fundamentais para fazer me interessar pela leitura que, por consequência, me torna um estudante e profissional mais capacitado por conseguir obter mais informações através da própria leitura. Eu lembro de ser pequeno e ter tido álbuns de figurinha. E esses álbuns sempre vinham com alguma pequena informação. Tá certo, é uma leitura mínima, mas, para uma criança, é um belo de um incentivo. E, graças a programas de TV (Cavaleiros do Zodíaco, Dragon Ball Z e Pokemon), pedia à minha mãe para comprar algumas revistinhas que traziam informações sobre esses desenhos. Outra obra que creio ter me ajudado em minha formação foi o atlas. Lembro de estar sempre olhando as bandeiras e, a cada país, vinha uma pequena série de informações, como língua nativa, extensão territorial, entre outras. O atlas também trazia informações sobre astronomia, como movimentos da Terra, da Lua e do Sol, que, aliados à escola, me levavam a buscar mais conhecimento. Acho que sempre tive uma certa fixação por isso de países e em tempos de copas, lembro de ler alguns guias com as eliminatórias da Copa ao longo dos anos, em que conheci países que a maioria das pessoas nunca ouviu falar, como El Salvador. Então, se você quer incentivar seu filho a ler, recomendo comprar um bom atlas, guias esportivos (fórmula 1, indy, futebol) e mangás/gibis
Em conclusão, a Bienal do Livro é um evento de público infanto-juvenil, basicamente de apelo para cultura pop, mas com grande potencial para o público de tecnologia (que atualmente, envolve quase todas as idades). Não vejo mais como um evento para comprar livros, mas um evento para reforçar a cultura pop, mas, se as pessoas enfrentam fila para comprar por lá mesmo, tanto melhor para as editoras. A meu ver, vai se tornar um evento para mostrar tecnologias e consumo pop (miniaturas, camisetas e cosplay). Não que os livros deixarão de ser vendidos, mas, pelo menos, eu prefiro comprar em sebos (pelo preço) ou na internet (para livros novos).